Trabalho noturno engorda!

Maioria engorda no primeiro ano de trabalho noturno, diz pesquisa

Às duas horas da madrugada, o radialista Paulo Leitão começa o bate-papo com os ouvintes em Porto Alegre:

 

“Erga essa cabeça meu amigo, meu irmão. Manda a tristeza embora que a partir de agora a gente vai nesse dia, a gente vai com você até seis da manhã batendo papo conversando”, diz Paulo no microfone.

Em São Paulo, João também está acordado. Ele trabalha como porteiro.

No Rio de Janeiro, trocar o dia pela noite faz parte do ofício dos taxistas Sérgio e Francisco na luta pelo sustento.

Mas o que pode haver em comum entre estes brasileiros de profissões tão diferentes, além de trabalhar de madrugada ano após ano? Todos sentiram o peso do trabalho noturno, eles engordaram.

“Sim, engordei, engordei, que eu acho que na noite o organismo ele para, consegue relaxar, as gorduras as localizadas e não localizadas vão indo para os seus devidos lugares”

conta o radialista Paulo Leitão.

Globo Repórter: A balança chegou a pesar quantos quilos?
Francisco de Assis Pacheco, taxista: 115 mais ou menos.

Globo Repórter: E você acha que engordou quantos quilos depois que você passou a rodar à noite?
Sérgio Campos da Rocha, taxista: Talvez uns dez.

O porteiro João teve que correr muito para perder os quilos que ganhou.

“Ah, sim, emagreci 6,5 quilos, sem fazer dieta”,

João Barbosa Vieira.

Relação entre a falta de sono, a obesidade e doenças

Mas o que tem a ver o trabalho noturno com o aumento de peso?

Dormir pouco e mal pode representar alguns quilos a mais na balança?

E, além de engordar, as noites mal dormidas podem abrir caminho para algumas doenças?

Os especialistas afirmam que sim.

A relação entre a falta de sono, a obesidade e doenças como diabetes e hipertensão está cada vez mais comprovada pela ciência.

Uma das pesquisas mais completas sobre os efeitos da privação de sono sobre a saúde foi feita na Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp.

Durante dois anos, pesquisadores acompanharam um grupo de sete mil trabalhadores noturnos das mais diferentes atividades, em quatro estados: São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os resultados são impressionantes.

No primeiro ano de trabalho noturno 93% das pessoas pesquisadas engordaram em média 6,2 quilos. E continuaram engordando. A cada ano, houve um aumento de peso entre 800 gramas a 1,2 quilo.

A pesquisa revelou que dormir pouco ou dormir mal enfraquece o sistema imunológico e altera a produção de hormônios como a insulina. Além disso, os trabalhadores noturnos acabam se alimentando de forma errada, passam a comer alimentos mais calóricos e a fazer as refeições fora de hora.

Taxista chegou a pesar 115 quilos e descobriu que estava com diabetes

O trabalho por turno ou o trabalho noturno não é algo natural para nos seres humanos, ou seja, o nosso organismo entende que quando a escuridão chega eu tenho que dormir, eu tenho que descansar. Na verdade o engordar representa o início de um grande processo. Eu engordo, eu aumento minha pressão arterial, a possibilidade de diabetes, resistência à insulina, síndrome metabólica e meu organismo quase que explode”

explica o doutor Marco Túlio de Mello, professor de medicina do sono da Unifesp.

Os taxistas Sérgio e Francisco conhecem bem as consequências da mistura perigosa da privação do sono, alimentação inadequada e sedentarismo.

Além de engordar, desenvolveram outra doença. O sinal vermelho acendeu para o Francisco quando ele chegou a pesar 115 quilos e descobriu que estava com diabetes. Foi aí que o taxista percebeu que era preciso mudar o rumo do estilo de vida que levava para tentar recuperar a saúde.

“Eu passei muito tempo no sedentarismo, nesse trabalho do táxi, para aqui, vai, come uma coisa come outra, tudo desregrado, sem exercício, aí comecei a me sentir mal”

conta Francisco.

No posto de saúde, os médicos viram que a taxa de glicose de Francisco estava quatro vezes acima do normal, 400 miligramas por litro, quando não se deve passar de 99. Só então ele botou o pé no freio.

“Alimentação melhor, cortando algumas coisas, refrigerante, doce e fui seguindo assim e principalmente com a parte da caminhada fui me sentindo bem melhor”

conta Francisco.

Em pouco mais de um ano o Francisco conseguiu perder 30 quilos. Agora, toma remédios para controlar o diabetes e a pressão alta.

“Os taxistas tão em risco porque eles têm longa jornada de trabalho, eles têm o sedentarismo, eles almoçam fora, eles muitas vezes acabam engordando. É um grupo de risco que precisa tomar cuidado, tentar fazer atividade física, tentar ter horários razoavelmente regulares e tomar muito cuidado com a alimentação”

explica Geraldo Lorenzi Filho diretor do Laboratório do Sono – InCor.

Fonte: G1

IMG_0116